Recordação da História da Diocese proclamada no Jubileu

50 ANOS DA DIOCESE DE LIVRAMENTO DE NOSSA SENHORA
 
A cada domingo, os fiéis deixam suas casas para, ao redor das duas mesas, agradecerem ao Senhor a semana concluída, buscando, ao mesmo tempo, luzes e forças para a que estão iniciando, alimentados pela Palavra e pela Eucaristia. Esta suposta normalidade da vivência cristã, hoje, aqui, se vê corroborada por uma particularidade: estamos celebrando os 50 anos da criação e instalação canônica da nossa amada Diocese. O que trazemos e o que buscamos diante do Senhor, que nos acolhe, mais uma vez, e se dispõe a nos alimentar?

Em cinquenta anos de caminhada, no desenrolar dos passos, vultuosos acontecimentos foram desdobrados, planos foram executados, empreendimentos foram feitos. Dos primeiros passos, talvez os mais difíceis, recordamos, com imorredoura estima, Dom José Pedro Costa, Bispo diocesano de Caetité, idealizador da nossa Diocese, e o dinâmico Padre Sinval Laurentino, executor das ideias. Aos dois, juntamos inúmeros homens e mulheres que, com esperança, inteligência, destemor e força, abraçaram a possibilidade nos idos anos de 1962.  O sonho cresceu e se tornou algo visto e admirado, em 1967, mais propriamente aos 23 de julho, quando, no transcurso daquela alvissareira manhã, neste mesmo espaço, tomou posse nosso primeiro Bispo, Dom Hélio Paschoal, de venerável memória. 

Criada a Diocese, faltava-lhe quase tudo. Todavia, era preciso caminhar, e não faltou quem avançasse, a passos largos, movidos pela boa vontade: Encabeçados por Dom Hélio, os padres Rodolfo, Aldo, Pedro Olímpio, Benvindo e Frei Pedro desdobraram-se em muitos. A eles, juntaram-se os Estigmatinos, Joseleitos de Cristo e, mais tarde, também, os Cooperadores Paroquiais de Cristo Rei. Aos poucos, a tímida realidade diocesana começou a tomar corpo, esculpido com a decisiva ajuda das irmãs Religiosas de Nossa Senhora das Dores, Congregação do Divino Mestre, Filhas de São Camilo, Pequenas Filhas da Divina Providência, Irmãs Campostrini e as Beneditinas Missionárias da Divina Providência.

O atendimento às Paróquias foi melhorando, projetos sociais foram implantados, leigos e leigas foram ocupando seu espaço, e a evangelização ganhou força. Vocações sacerdotais e religiosas começaram a surgir, via-se crescer o clero diocesano, e, do que se tinham notícias de outras dioceses, esta, de Livramento de Nossa Senhora, começou a possuir. Fomos alcançados pelo projeto das Dioceses irmãs, de êxito questionável, mas uma presença que merece ser lembrada.

Com agigantado passo na infraestrutura, foi construído, na então periferia da cidade, o majestoso Centro Diocesano, à época, aos olhos de muitos, visto como desperdício de dinheiro em meio ao mato. Hospitais e colégios foram construídos e postos em funcionamento, novas igrejas foram erguidas, à medida que surgiam novas comunidades eclesiais.

Assim, caminhamos por quase trinta e oito anos. Acertar sempre foi o desejado, mas erramos, às vezes; retrocedemos nuns pontos e avançamos noutros. As dificuldades não foram poucas e alguns pedaços do caminho foram regados com lágrimas. No limiar do novo milênio, andamos por areias movediças. A iniciante debilidade física de Dom Hélio fez enfraquecer nossas forças diocesanas, somando a isto a desistência de alguns, que tomaram outros rumos, mais viáveis e com melhores perfis. Aqui ficamos nós com nosso velho Bispo e as dificuldades que apareciam. 

Como o tempo não para, e o caminho se faz caminhando, alcançamos, com dificuldade, o ano de 2002, como se caminhássemos cansados, em meio à fumaça ou ao nevoeiro. Chegou o momento da renúncia de Dom Hélio e foram dados os primeiros passos para a sua substituição.  Pode haver outras convicções, e até mesmo tratados a respeito, mas o que aprendemos desde criança prevalece: Livramento é de Nossa Senhora; esta Diocese pertence à Senhora do Livramento. E, na forma mais genuína de crer, alimentamos a convicção de que uma escolha tão excepcional como a que testemunhamos em 21 de janeiro de 2004, só pode ter sido o que foi, por que Nossa Senhora do Livramento, que socorreu nossos antepassados, na primeira metade do século XVIII, nunca abandonou o povo que, desde cedo, a reconheceu como mãe e senhora. E vimos ser escolhido nosso segundo Bispo, dentre todas as possibilidades, a melhor que se tinha; e que escolha! O então padre Armando Bucciol, que há doze anos estava na Diocese de Caetité e planejava voltar à sua terra natal, acolheu o pedido, e parou por aqui mesmo. Foi nossa valia.

Em 18 de abril de 2004, nossa enfraquecida Diocese se tornou uma bela esposa, sem ruga e sem mancha, resplandecente de beleza, graças àquele que naquele dia a desposara. 

De imediato, as forças voltaram, e o caminho foi retomado, sem tropeços: Já nos primeiros noventa dias de governo, Dom Armando tinha visitado todas as paróquias da sua, da nossa Diocese, inclusive várias comunidades rurais das mesmas. E, de lá para cá, nunca parou e, por que não para, incomoda aos retardatários enquanto questiona os vagarosos.  Exerce o seu pastoreio sob o tripé EVANGELIZAÇÃO, FORMAÇÃO E ORGANIZAÇÃO, estimulando, com insistência, a que façamos o mesmo. 

A presença das religiosas foi ampliada, juntando-se a nós as Irmãzinhas de  Foucauld, a Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição e as Missionárias do Santíssimo Sacramento e Maria Imaculada; as vocações sacerdotais aumentaram, como muitos leigos e leigas se tornaram evangelizadores.

Hoje, neste único e grande dia podemos contemplar passos muito significativos em nossa caminhada, dados nos últimos treze anos. Destacamos: subsídios para as diversas pastorais, iniciativa e produção pessoal de dom Armando, realidade em pouquíssimas dioceses brasileiras; a Escola de Teologia para leigos (ETeL), alcançando em ano de 2016 mais de 300 concluintes, provenientes de todas as Paróquias; criação da Obra das Vocações e Ministérios (OVM); fortalecimento da Pastoral Vocacional; criação da Pastoral da Pessoa Idosa e reerguimento da Pastoral da Criança; reestruturação da Pastoral Familiar; incentivo e apoio aos movimentos eclesiais existentes na Diocese; criação das Paróquias do Senhor Bom Jesus do Taquari e de São Paulo Apóstolo de Novo Horizonte; completa reforma do Centro Diocesano de Treinamento Pastoral e construção do auditório a ele anexo; novas instalações da Cúria Diocesana; construção de 5.850 cisternas, até meados de 2016, em parceria com os governos estadual e federal, viabilizando o melhor convívio com o semiárido. O clero diocesano, formado por três padres, em julho de 1967, hoje, conta com 15 membros, em vésperas de 16, além de 01 padre em regime missionário, vindo da Arquidiocese de Ribeirão Preto. Os religiosos partilham da nossa caminhada, sendo eles 05 estigmatinos e 02 da Sociedade Joseleitos de Cristo. Temos 14 seminaristas. 

E como não fazer menção, nesta hora, aos inúmeros leigos e leigas que, em todos os cantos do sertão e da chapada se colocam a serviço da evangelização, primeira preocupação da nossa Igreja.

Tudo isso, trazemos ao altar do Senhor e aqui depositamos. Ele nos acolhe e acolhe os nossos dons. Mas também é verdade que, ao longo desse meio século, pontuamos a caminhada com nossos pecados, pois somos humanos. Também o nosso pecado trazemos para dele nos desprendermos no altar do Senhor, que nos perdoa. Ainda que nos restasse apenas pedir perdão, esta festa se justificaria, porque quando pedimos perdão na convicção de que somos amados, enquanto suplicamos, subjaz em nosso coração uma antecipada alegria do perdão a ser recebido, que dá motivo à festa. 

E o que fazer com o choro, a desventura, a dormência? Também essas e todos as outras fraquezas podemos trazer, juntando a elas nosso penar, ainda que constante, porque o Senhor, que nos recebe em seu altar, nos ama.

E se nada tivéssemos para trazer? Mesmo assim teria valido a pena nossa vinda, porque teríamos trazido nós mesmos, a melhor das oferendas, Àquele que nos ofertou tudo, porque nos deu sua própria vida.

Por isso, nesta hora solene, com nossas vozes e nossos corpos, louvemos a Deus pela coragem em começar, perseverança ao enfrentar os desafios, bravura ao nos depararmos com cada adversidade, firmeza em definir os rumos desta cinquentenária Igreja particular, entregue aos maternos e seguros cuidados de Nossa Senhora do Livramento. 

Livramento de Nossa Senhora, 23 de julho de 2017.


Padre Rinaldo Silva Pereira
 - chanceler do Bispado -

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