ABERTURA DO
SIMPÓSIO
10 ANOS DE
EPISCOPADO DE DOM ARMANDO
CONSTITUIÇÃO
DOGMÁTICA LUMEN GENTIUM
Boa
tarde a todos.
Senhores,
senhoras...
Entendemos
ser este simpósio sobre a Constituição Dogmática Lumen Gentium o começo das comemorações dos 10 anos de episcopado
do nosso amado bispo dom Armando Bucciol. Para este momento foi-me solicitada
uma palavra. O que dizer?
Penso
mais adequado ao momento um retorno no tempo, até alcançarmos 21 de janeiro de
2004. Naquele dia, às sete horas da manhã, o então nosso Bispo, Dom Hélio
Pascoal, pôde romper o segredo pontifício e anunciar aos seus diocesanos que o
papa, hoje São João Paulo II, nomeara o novo bispo da nossa Diocese. Tratava-se
do padre Armando Bucciol, italiano, da diocese de Vitorio Veneto, que há 12 anos, como fidei donum, trabalhava na vizinha Diocese de Caetité. Até onde foram
permitidas, as coisas estavam preparadas e, a partir daquele momento, elas adquiriam
a velocidade que mereciam.
Manhã
auspiciosa aquela! Sem mais a necessidade do segredo, logo foram iniciados os
repiques dos sinos da catedral, e penso que o mesmo foi feito em todas as
paróquias; de ouvido a ouvido, por cartas, telefonemas, telegramas e até
e-mails, ainda incomuns, a alegre notícia se fez fazer chegar a todos os cantos
da Diocese e fora dela. Ainda nas primeiras horas da manhã o tradicional carro
de som começou a percorrer as ruas desta cidade convocando a população para a Missa
de ação de graças que seria celebrada à noite, na catedral.
E
o mesmo se fez. A catedral ficou repleta de fiéis. A um determinado ponto da
homilia, Dom Hélio, voltando-se para a barroca imagem da padroeira entronizada
no altar mor, e para ela apontando o dedo, disse: “Eu tenho certeza que uma
escolha tão excepcional como a que testemunhamos hoje só foi possível por ela
intercedeu, tem o dedo dela nisso. Ele é muito mais capaz do que eu, porque ele
já conhece a realidade e tem a experiência que me faltava em 1967. Ele é
italiano, mas tem seu coração em nosso sertão”.
Providências
tomadas, chegamos a 17 de abril de 2004, quando a cidade de Guanambi recebeu
diocesanos de Livramento e Caetité, italianos e gente vinda de tantos outros
lugares para participar da ordenação do novo Bispo da Diocese de Livramento de
Nossa Senhora. E no outro dia, vimos a Diocese de Caetité, qual mãe providente,
entregar à sua filha unigênita o esposo que ela mesma atraíra ao próprio
território 12 anos antes. Presenciamos no limite da nossa Diocese um gesto do
nosso novo Bispo: transpondo-se o Rio São João, por primeiro Dom Armando
curvou-se ao chão e beijou os primeiros palmos de terra da sua Diocese. Acompanhado
por muitos, ele avançou em direção à sede diocesana, e foi realizada a
cerimônia de posse na presença de uma multidão já mais vista na praça da
catedral. Que bela festa!
É,
mas como a vida não é feita somente de festa – e dom Armando bem sabe e ensina
isto – havia muito mais o que fazer, havia situações urgentes e setores da vida
diocesana agonizavam. Num ritmo célere, o episcopado de Dom Armando tomou corpo
e as orientações do Concílio Vaticano II, até então desconhecidas ou em parte
ignoradas, deram forma à nossa vida diocesana: os instrumentos de comunhão e
colaboração passaram a ser exigência irrenunciável a todas as paróquias e em
nível diocesano; a formação permanente do laicato foi iniciada tempestivamente;
a infraestrutura passou por melhoramentos significativos e nós passamos a nos
posicionar melhor enquanto Igreja; a vida paroquial passou por restruturação;
missões populares passaram a fazer parte do nosso calendário anual; as
pastorais sociais adquiriram força e hoje há milhares de cisternas já foram
construídas nas casas onde a seca é mais intensa, promovendo, assim, e
inclusive, geração de empregos. Com uma catequese litúrgica insistente feita
por dom Armando, nossas liturgias, paulatinamente, se tornam mais sóbrias e
essenciais.
Nesta
tarde, enquanto aqui estamos, por certo, em várias comunidades desta Diocese,
catequistas formam catequizandos, nas mais variadas fases, a partir do material
produzido pela mente e mãos de Dom Armando; e quantos se sentem mais seguros em
sua escolha vocacional porque aqui vieram e vem aos encontros vocacionais; o
seminário garante-nos um futuro, o mais promissor que se pode almejar em termos
de ministério presbiteral. E quantos
leigos e leigas concluíram ou estão a caminho de concluir o curso de teologia a
ele destinados nesta Diocese! Deus seja louvado!
E
mais: Se as estradas desta diocese, até mesmo as mais intransitáveis, se elas
pudessem falar, com certeza nos dariam notícias de quantas vezes elas foram
percorridas pelo nosso Bispo, até mesmo nas altas horas da noite e correndo
perigo, para alcançar as comunidades, até mesmo as mais longínquas, pequenas e
desconhecidas, onde talvez residam os menores, portanto os primeiros na
destinação dos cuidados pastorais.
Como
não fazer menção aos atendimentos individualizados, ao tempo dedicado aos
pecadores no confessionário, auxílio aos padres em todas as localidades! Como
deixar fora dessas palavras o cuidado quase que obstinado aos jovens, que ainda
são tantos, e aos crismandos em sua caminhada à maturidade cristã!
Como
se as fronteiras desta Diocese fossem curtas, Dom armando ainda encontra tempo
e motivação para auxiliar a tantos que dentro e fora dos limites desta nação
pedem uma ajuda ao Bispo de Livramento de Nossa Senhora.
E
quantas coisas boas me escapam neste momento, mas que foram feitas ou
incentivadas por nosso Bispo, não por desencargo de consciência nem por pressão
do ofício, mas pela convicção que o ministério episcopal é um serviço.
Por
isso e por muito mais é que aqui estamos num clima de festa, de agradecimento
e, por que não dizer, também de esperança.
Dom
Armando, embora nem sempre pareça, mesmo sem entender como deveríamos, no seu
sentido mais genuíno, os seus incentivos e cobranças; mesmo sem corresponder,
na totalidade, aos seus estímulos de evangelização, formação e organização;
mesmo se, às vezes, discordamos de algumas ideias, mesmo assim queremos,
queremos muito, Dom Armando, a continuidade de tudo isso.
Queremos
continuar vendo que o senhor agarra a cruz peitoral quando quer insistir conosco
em algo para o qual parece não ter força suficiente de convencimento; queremos
continuar ouvindo “um pouco por vez”
para sermos consolados quando nos damos por incapazes; queremos continuar
ouvido “basta” quando quer nos dizer que estamos indo longe de mais; queremos
continuar ouvindo “ até isso!” para sentirmos sua solidariedade diante das
exclamações que a vida nos leva a fazer; queremos continuar ouvindo o barulho
do seu anel que vai de encontro à mesa, quando, nas reuniões ou em outras
ocasiões, o senhor insiste em nos dizer que está certo em suas convicções;
queremos continuar ouvindo “escuta...” quando o senhor pretende nos dar um serviço
além do que já temos em nossas mãos; queremos continuar ouvindo “pelo amor de
Deus!” quando o senhor discorda do que falamos ou fazemos; queremos continuar
ouvindo “vejam bem!” como prenúncio que algo sério será logo dito. Queremos,
queremos continuar ouvindo o senhor chamar de bonito o feio, que somente o amor
faz ser contemplado como tal, porque é verdade, Dom Armando, que, para quem
ama, o feio, bonito lhe parece.
Muito obrigado, Dom Armando, porque se é
maravilhoso pertencer a esta Diocese, também é muito bom ter o senhor como
nosso Bispo.
Dom Armando, peço
que não veja nestas palavras uma espécie de Captatio
benevolentiæ. Não, elas não são isso,
mas pretendem ser apenas um jeito de dizer, não o único possível nem com
esquemas didáticos, mas pelo sentir do coração, que seu episcopado, nestes 10
anos, tem sido, para nós, ainda que neste recanto do mundo, o desdobramento da
Constituição Dogmatica Lumen Gentium
cujo cinquentenário estamos celebrando e que nos ensina um novo jeito de ser
Igreja. Hoje, 10 anos após, entendemos que aquele beijo dado à terra, foi
desdobrado em muitos gestos de amor. Sentimos cumprir a afirmação de Dom Hélio
naquela feliz homilia, pois a escolha foi excepcional e se houve a intercessão
de Maria, a senhora a quem pertence estas terras, Aquele que a tudo provê não
se fez esperar, mas nos mandou o senhor, o nosso Bispo, a quem muito amamos.
Muito obrigado!
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